Quando é na casa dos outros,
nunca é connosco. Não queremos saber e assobiamos para o lado. Esperamos que a
“coisa” passe e que ninguém se lembre mais tarde, da nossa inércia. Tudo isto
resulta de não queremos ter chatices para o nosso lado, e gostarmos de estar
sempre sossegados no nosso canto, só com os nossos pensamentos e preocupações. Mas até
que ponto é que os problemas dos outros, não são nossos? Até que ponto devemos
desligar, só porque não temos nada haver com isso? Não teremos mesmo? A nossa
opinião é assim tão indiferente, mesmo quando o assunto não nos atinge directamente,
ou toca levemente na nossa esfera pessoal?
Não nos podemos esquecer que
somos humanos. Que sentimos as coisas. As pessoas. As situações. Os
irracionais. A natureza. Somos capazes de nos emocionar com pouca coisa. Com
muita coisa. Sentimos empatia, revolta ou afinidade. Mas ao mesmo tempo que
tentamos desligar, não conseguimos. E aquela transparência muito própria de
quem não quer confusões, desaparece num ápice. Por vezes é inevitável tomar uma
posição, mesmo que isso nos coloque na berlinda. Que acenda o foco sobre a
nossa existência, muitas vezes tão pacata e indiferente. Por vezes, temos a perfeita
noção que nos esticamos nos comentários que produzimos, e se pudéssemos voltar
a engolir tudo aquilo que dissemos, faríamos isso sem hesitar. Por vezes, não
conseguimos ficar calados, mesmo quando nos dizem “não tem nada a ver com
isso”. E no fundo, não temos, mas conseguimos ver que para além da nossa acção, existe um bem maior, e que por vezes basta uma palavra para confortar alguém ou
desviar o rumo de uma situação obtusa.
Também não nos podemos esquecer, que além da condição natural com que nascemos humanos, vivemos condicionados pelas premissas sociais.
Obtemos interacções circundantes da comunidade onde estamos inseridos, do país
onde vivemos, da nacionalidade que temos. Por cá, já se sabe, que é coisa muito
típica do português, proferir ditados populares, e aquela tirada “de que entre
marido e mulher, não me mete a colher”, serve de justificativa para quase tudo.
Ou para muita coisa. Considerando também, tudo aquilo que passámos enquanto povo
nos últimos séculos, também vemos inscrito no nosso ADN colectivo, algumas
barreiras preconizadas pelo "não querer envolver". Do não querer saber. Do querer ficar
de parte. Mas por vezes essa opção não existe e somos arrastados para situações
que preferíamos não encontrar, ou viver. Mas nem sempre temos escolha e aquela
coisa do livre arbítrio das aulas de filosofia, atinge uma dimensão esotérica,
como se fosse inatingível.
E tudo isto para falar do quê, mesmo? Caríssimos,
a Amazónia continua a arder. Os povos indígenas estão a morrer. A fauna e flora
desaparecem numa questão de minutos e ninguém se importa. O pulmão do mundo,
que cria cerca de 20%, do oxigénio mundial (vital para os seres
humanos), continua a diminuir drasticamente. A Noruega e a Alemanha,
considerando as políticas actuais do Presidente Brasileiro, para a floresta
tropical, resolveram parar de fornecer compensações financeiras para o fundo da
Amazónia. Deixaram um bem comum nas mãos de um lunático, porque ao fim ao cabo
é um problema brasileiro. Aliás, conforme li em comentários em órgãos de
comunicação social portugueses, de brasileiros residentes em Portugal, essa
mesma ideia é defendida. Li afirmações, de que só os brasileiros é que podiam
opinar sobre a Amazónia, porque esta era só deles (em bom rigor, pertence a
seis países) e que se Portugal deixava arder a “sua” floresta, não poderia
comentar o que quer que fosse. Poderia aqui demonstrar que o problema não são
só os incêndios actuais, mas sim a desflorestação desenfreada para enriquecer alguns madeireiros
e a implantação indiscriminada de actividades como a pecuária, mas isso seria um esforço inglório. Quando as
pessoas não querem ouvir, nada as fará ouvir. Mas… nós portugueses (espanhóis,
italianos ou romenos), teremos mesmo que ficar calados? Só porque “não é
connosco”? Será mesmo só um problema dos nativos do Brasil?
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