
Faria hoje 118 anos, se fosse viva. Acompanhou ao de leve a
monarquia e viu crescer a República. Presenciou a entrada em cena do ditador António
de Oliveira Salazar e sempre foi adepta da liberdade. Da vida. Da luta. Da
capacidade de o ser humano vencer obstáculos. Da resiliência. Da vontade em
querer ser mais, do que a condição que lhe foi imposta. De mulher. De mãe
solteira. De chefe da família. De protagonista de trazer o pão para a mesa das refeições.
Matou a fome a algumas pessoas, mesmo quando tinha pouco. Sempre se quis
moderna, mesmo sabendo que a educação católica que recebeu a condicionava. Era
uma mulher de esquerda (politicamente falando), mas não discriminava ninguém. Nasceu
orgulhosamente em Meca (Alenquer), viveu em Lisboa, na zona saloia e morreu em
casa, na sua cama, no seu quarto, no Cabeço de Montachique, concelho de Loures.
Esperou chegar à centena, como que se fizesse questão de presentear a família,
uma vez que todos falavam disso com orgulho.
Foi – e é – sem sombra de dúvida, uma das maiores
inspirações da minha vida. Para Portugal chama-se Maria Olímpia. Para muitos
era conhecida como Ti Maria de Fanhões. Para outros, a mãe da Maria da Glória. Mas
para mim, era simplesmente a Avó Maria. Em bom rigor, era a minha bisavó, mas
nunca a tratei assim. Sempre esteve em pé de igualdade com as demais, e isso
nunca foi problema. Foi uma mulher de armas, uma mulher de fibra e uma mulher
que lutou a vida toda pela família. Sempre disposta a trabalhar para garantir o
sustento dos seus, e uma cozinheira de mão cheia. Morreu aos 100 anos (e uns
meses) e deu-me o privilégio de a ter conhecido até então. Esteve
presente em toda a minha infância, e dava-me uns “trocos” para comprar sumos e
bolachas no supermercado do Marcial, para que tivesse alimentos para a boda,
quando brincava aos casamentos. Acompanhou-me na adolescência, e dava-me sempre
algum dinheiro da sua parca reforma, para eu gastar onde quisesse. Viu-me
entrar na faculdade, mas não conseguiu ver-me terminar o curso. Era uma mulher
modesta, mas com um coração gigante. E eu nunca me vou esquecer dela. Parabéns
avó Maria. Gosto muito de ti.
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